Passos de fogo na bruma
O dia era claro, feito de luz vivida.
A tua face brilhava envolta no véu transparente.
Tudo luz, tudo seduz: sentia-se vida.
Este poema é para ti: Deusa inexistente.
Mas, se existisses, este poema também seria nada.
Apenas cinza, como a que crias na noite
tomada pelo mais cáustico bréu.
Assombrosa escuridão sem vento nem luar.
Mas que mais se poderia esperar do trabalho feito por um tolo
quando comparado com a força hercúlea da tua beleza celeste?
Em tumulto percebo, arrastado, que o teu corpo invisível não o vejo.
Vislumbro só o Divino passo marcado no chão.
Um desenho de contornos feitos de lume, subtil clarão,
subtilmente seguido por outro e eu ao vê-los arquejo.
Submisso a ti. Em súplica. A contemplar o teu fogo. Nós a sós.
As labaredas minúsculas ondulantes: a única referência de luz.
Se tudo é um sonho, ainda assim, eu só quero
o precipício fugaz desta tua existência de Vénus.
Luz e sedução, escuridão e calor, assim,
é o fogo telúrico do teu amor.
Nota do autor:
O adjectivo "hercúlea" deriva de Hercules, o Deus da antiguidade.