O pão sem nexo
A solidão come-se em dedaços secos de pão.
Sim, se não houver ninguém que vá buscar o pão fresco do dia,
se não houver quem nos estenda a sua doce mão,
se não houver um outro peito, vivo, cheio do calor bruto de um vulcão.
A solidão ouve-se em instantes sem som.
Sim, se não houver quem nos acene dádivas em palavras,
se não houver quem reconheça no falar um dom,
se na página branca não houvessem palavras em criança aprendidas.
A solidão come-se, ouve-se mas, não se aceita.
Sim, mas compreende-se e habita em todos,
ainda que ninguém a queira acolher,
surge ofuscante como a estrela inesperada que risca o céu.